sábado, 4 de agosto de 2012

Insuspeitado Aeródromo








Reúnem-se os comandantes de Esquadra e todo o quartel-general em inopinado aeródromo.
Já tradição para o co-piloto, lá me convence, mais a restante tripulação, a uma ida até ao dito aeródromo, onde reencontra oficiais graduados, alguns de elevada idade que o tratam por puto.
O Willys mete-se a caminho, por uma estrada que de terra batida, passa a areia, sem qualquer indicação para  onde nos estaríamos a deslocar.

Mas o co-piloto conhece bem o caminho, apesar de não existirem referências.
Sente-se bem na firmeza da sua voz, e da emoção que transmite, quando fala deste insuspeitado aeródromo.
Chegamos ao local.
Dezenas de aeronaves de assinável porte, dos mais diversos modelos, bem camufladas entre a vegetação, surgem como do nada.

Paro a viatura, junto à porta de armas; O co-piloto rapidamente deixa o Willys para trás e lança-se para o interior do aeródromo.

Junto à porta de armas, o pessoal de serviço chama-nos ao interior do posto de controlo.

- Bom dia, solicito a sua identificação e finalidade da visita, informa-nos o soldado.

Entretanto, irrompe o co-piloto pelo interior do posto de controlo.

-O que é que se passa? Vimos cá em visita do comandante da nossa esquadra.

Terão que deixar identificação no posto, informa o soldado.

-Mas que treta é esta??  De quem  é que vocês pensam que esta farda é ? Do inimigo?

- Nunca em ocasião alguma  tal sucedeu!! Onde é que está o oficial de dia da policia aérea??  Afirma o co-piloto com um tom de voz em crescendo.

- Arrisco o pescoço em cada missão, para que vocês aqui estejam na porta de armas a brincar á tropa!!

O dia oficial de dia polícia aérea, dá entretanto entrada no posto, e numa questão de segundos, o tom sobe cada vez mais entre os dois.

Perante um impasse, em que cada um esgrime os seus argumentos, aproximam-se alguns veneráveis comandantes de esquadra que o conheciam o co-piloto já desde à longa data.

A discussão entre o oficial de dia polícia aérea, e o co-piloto, prossegue a todo o lume, valeu a presença dos comandantes de esquadra, que lá trazem calma ao momento, quase à beira de se tornar em algo de “físico” entre os dois.

- Dê ali uma palavra ao Brigadeiro… com calma….dizem ao co-piloto.
Entretanto, oficial de dia polícia aérea, retira-se irritadíssimo, mergulhado em grande frustração.

Mas a coisa não fica por aqui.
Já na presença no Brigadeiro, o co-piloto continua no mesmo tom; a continuar assim até o comandante da nossa esquadra vai ter problemas por isto.

-Oiça, conhecemos a sua situação. Sabemos que costuma fazer estas visitas. (afirma o brigadeiro, num enfático tom)

Apesar de estar a presenciar todo este momento, distancio-me de toda a acesa discussão que por ali têm lugar.

- Percebe-se bem que o brigadeiro não conhece o stress; De voar a noite, a muitos milhares de quilómetros de distância da base, em território inimigo, sempre sujeito à mais inesperada surpresa.

- Efectue a visita conforme deseje, cumprindo as indicações deste aeródromo. E assim terminou o Brigadeiro.

Somos apenas número. Apenas mais uns. Nada mais; Em milhares de aeronaves em que cada tripulação se convence que pode fazer a diferença.

O nosso comandante chega ao pé de nós, apanhado de surpresa por todos os acontecimentos que não presenciou.

Um simpático comandante de uma outra esquadra, agarra um dos soldados do posto, e pergunta-lhe, em tom de afirmação:

-Não vos ensinaram a hastear as bandeiras devidamente? Já viram que conseguiram fazer a proeza de hastear tudo na ordem errada??

- Já algo desorientados, o pessoal da porta de armas, nem sabe o que dizer…mas que dia de serviço lhes foi calhar, vê-se claramente espelhado nas suas caras…

- Esta tropa… já nem recruta têm como deve ser ….Diz o simpático comandante,- e venham daí beber um copo, chamem os artilheiros, são convidados nossos no clube de oficiais.

Passado o “regulamentado” tempo de visita, lá viemos embora, após uma rectificação rápida, na parte eléctrica da B-17.

À posteriori, viemos a saber que o bem camuflado aeródromo, ainda deu dores de cabeça ao nosso comandante, quando, ao sair fora de um taxiway, a B-17 ficou “plantada” no meio da areia sem, se conseguir mexer, valendo-lhe a preciosa ajuda de um tractor agrícola que por ali passava, colocando-a de novo na pista.

Ajuda. Algo precioso. Dada de forma desinteressada. E que faz toda a diferença.

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