sexta-feira, 15 de abril de 2011

Desarvorar
















Com a chegada de uma bela manhã, eis que os artilheiros me convencem a um pequeno passeio de bicicleta junto às movimentadas pistas onde os mais diversos tipos de aeronaves se cruzam, enquanto aguardamos por aquela que será  “ a missão” ainda incerta e mergulhada no mais absoluto segredo.

Na camarata, o co-piloto tentava recuperar o sono em atraso depois de mais uma das inúmeras noites, frente à televisão, acompanhado esporadicamente por um cigarro, vendo e revendo imagens dos tempos de paz, em idílicas viagens, para as quais se sente transposto, longe da realidade vivida.

Já de regresso aos alojamentos, de vislumbre, um dos artilheiros vê um pequeno avião a fazer-se à pista numa fumarada incrível do motor.

Não lhe demos muita importância; Neste espaço de tempo já tinha as rodas no chão e parecia encaminhar-se para um “spot” na pista.

Pára no entanto, num dos “taxiway” e o piloto abandona a aeronave, verdadeiramente desesperado, com o motor em rotação máxima, acompanhado da intensa fumarada.

Algo está aqui muito mal; Depois de algumas pedaladas rápidas, estamos junto da aeronave e do piloto, que mal se compreende o que diz com o ruído do motor.

- Desliguei tudo !! Até tenho a chave na mão !! Mas o motor não pára de acelerar!!

Ordeno aos artilheiros que se afastem para uma zona de segurança, rapidamente tudo aquilo se pode transformar numa enorme bola de fogo…

Consigo um aceder ao motor, após desprender alguns fechos de um dos capôts , procuro retirar-lhe todos os fusíveis,  relés e cabos, para que sem alimentação de corrente, se cale e pare.

Mas é inútil. Continua a acelerar, e atinge tal temperatura que o líquido da refrigeração começa a sair em vapor tal a temperatura atingida.

Continuo (ainda a tentar retirar mais alguns fusíveis, na esperança que se retirar o certo, o motor pararia) mas continua a ser totalmente inútil.

Até que um ajudante de mecânico se senta no cockpit, e após um pequeno solavanco eis que o motor parou, fumegante após o esforço louco em que se encontrava.

- Já me aconteceu na minha carrinha, afirma – o motor estava a desarvorar.

- Iria continuar assim até que se destruísse, a única coisa é engatar uma mudança alta, puxar o travão de mão, carregar no travão de pé e libertar a embraiagem para que assim se vá abaixo e pare finalmente.

Enlouquecido no seu desarvorar só assim foi impedido de destruir toda a aeronave.

O óleo do motor era o seu combustível, a sua independência de tudo e todos que na sua loucura o iria consumir.

Dá que pensar. Acontece o mesmo com os humanos, por vezes na sua vida.

Seja uma beldade, ou uma doentia paixão material, uma atitude, ou maneira de estar, que arrasta assim um ser, na mais elevada rotação para o seu final, julgando-se senhor de si perante tudo e todos, quando na realidade já nem o é em relação a si.

Valha-nos o exemplo dos outros, o que pudemos aprender com eles, com algo simples, prático e racional e que resolve as questões na sua essência.

Um saber que as escolas, liceus ou faculdades esqueceram, mas essencial para os indivíduos na sua sobrevivência.

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