sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
The Last Rudolph Flight
Com um já “habitual” atraso em relação à hora de partida, levantamos voo em direcção ao País dos Pirenéus, com a fortaleza voadora despida de qualquer armamento e com pouca carga.
Ao entrar em Espanha, rapidamente nos apercebemos que a crise financeira mundial é grave, e começa a fazer-se sentir sobre os cidadãos de cada país.
Quando de passagem por Espanha, era normal os Espanhóis ao verem a matricula da viatura, terem uma atitude de simpatia com os “Hermanos”Portugueses, normalmente mais pobrezitos de finanças.
Agora não; a viatura representa agora para eles um status, algo que também gostariam de fazer e não podem.
E isso vê-se bem nos olhos do condutor da viatura ao teu lado. Algo está a mudar e não é para melhor.
Surpreendentemente ao fim de poucas horas de voo, o cansaço ataca de uma forma gradual, e apercebendo-se do facto, o co-piloto convence-me a uma paragem.
Desviando-se um pouco da rota na “neutral” Espanha, quando estamos prestes a parar, surgem dois caças ME109 Espanhóis, que nos dão indicação para aterramos de imediato.
Aterramos no improvisado campo, e vem ter convosco um militar Espanhol (não faço a mínima ideia com que posto, mas era oficial) que nos pede toda a documentação relativa ao voo.
Visivelmente admirado por verificar um voo aquelas horas, percebo a razão da “escolta forçada”.
Ao optarmos pelo “pequeno desvio da rota” aproximamo-nos de uma “instalação sensível” Espanhola, que normalmente passamos a uma razoável distância, sem fazer alertar as suas defesas.
Após verificarem que a B-17 está “desmilitarizada” (senão ficávamos “de férias forçadas" em Espanha e a B-17, internada) lá nos dão indicação para seguir.
Com bom tempo e após algumas horas de sono, lá alcançamos o país dos Pirenéus.
Sempre bem acolhidos, só mais pobre agora em termos materiais.
Curiosamente, apesar desse empobrecimento, a vontade de lá ir é sempre a mesma.
Compreende-se assim que a riqueza material, mesmo quando é despida de um país, é completamente acessória, como é para ti.
Ser lembrado ou motivo de conversa pelo que tens ou tiveste, é sempre muito efémero.
Verificas que, relativamente à acções que tomaste em relação a outros, iniciativas, à tua atitude em determinado momento, recordam-te de factos e situações que já tu te esqueceste.
Essa sim é a riqueza; A material não, apenas passas por ela.
De lista em riste (com valores para comparar preços) lanço-me com a tripulação na ainda vasta aérea comercial do país dos Pirenéus.
Mas pouco ou nada realmente compensa. As diferenças de preços são mínimas, no passar de um ano a única coisa que realmente aumentou é o número de lojas vazias, e o peso à descolagem da B-17 reflecte essa realidade, pois voa de regresso praticamente vazia.
Tudo calmo; Viagem de regresso, com uma tonalidade aborrecida.
Cai a noite, e no meio da escuridão, quase na entrada de uma localidade a cerca de 100km de Lérida, em plena estrada, surge um enorme dente frente aos faróis.
Instintivamente (não tenho melhor descrição) empurro a manche da B-17 violentamente para a frente, e quase de imediato vários objectos ganham gravidade zero, dado o carácter repentino da manobra.
A medida que vários objectos se estatelam por todos os lados, apercebo-me de uma pequena cauda ainda a passar frente à óptica direita, como se deslocasse num carril, não avançou nem atrasou a sua passada, nem alterou a sua direcção; A nossa presença para si não existia.
Passamos milimetricamente (daquelas que vemos no cinema e comentamos: - se fosse a sério tinham acertado em cheio) de um enorme javali...; Um dos artilheiros ainda o conseguiu vislumbrar, e apercebeu-se perfeitamente que afinal uma calma missão de carga, em território neutral, pode ser igualmente perigosa como a mais difícil missão de combate em território inimigo.
O que é que este gajo estava aqui a fazer?? Mesmo no meio do nosso “flight path”!! - Saía feito em salsichas pelo escape!! - Comenta o co-piloto, após breve paragem para verificação de reporte de estragos.
Não deixo de pensar, enquanto na breve paragem, das consequências de um impacto directo...uma massa de quase 4 toneladas, a cerca de 80km/h contra outra de cerca de 200kg praticamente parada.
Todos os reportes de colisões em voo que conheço são unânimes nas suas conclusão: perda irremediável da aeronave em causa, ou danos graves que impossibilitam a continuação da missão de acordo com o plano de voo.
Se em vez da B-17, imagino um caça...contra uma massa destas...
Continua a viagem e sucedem-se as paragens para reabastecimento, dando a sensação que a B-17 está cada vez mais “gulosa” em combustível, apesar de voar praticamente vazia.
O co-piloto perde-se em intermináveis explicações para o facto, desde a diferença de altitude etc…etc, sem chegarmos a nenhuma conclusão.
Passamos Madrid e as condições climatéricas degradam-se bastante, e apesar de um recentemente equipamento disponibilizado para análise climatérica, lembramo-nos que lhe demos todo o uso e mais algum excepto o devido...
Acompanhados por vento e chuva em grande quantidade, paramos, e no dia seguinte o céu azul brilha e no voo até a base não deixo de sentir algo que pensava ter deixado para trás há algum tempo, a velha conhecida tristeza, se bem que menos intensa, marca a sua presença.
Já na base, fazem-se contas então ao combustível – afinal gastou o mesmo…que o ano passado!! O problema é que o combustível está (com o decurso da guerra) cada vez mais caro…
- Apesar dos “Rudolph flights” serem altamente motivantes para toda a unidade foi determinado o seu fim...é nos lido num comunicado no briefing após voo.
- O custo do combustível cada vez maior, essencial para missões de combate cada vez mais decisivas e a ainda a (sempre) possível perda de uma aeronave no decurso das referidas missões apelidas de “rudolph fligh” vem assim determinar o seu fim.
Em conversa informal com o srº Comandante de Esquadra, percebemos a delicadeza do momento, e que o próximo ano, já e quase certo que teremos uma missão nada fácil, de elevado consumo de recursos e decisiva...até a possível data da sua realização é motivo de grande segredo, quanto mais os possíveis alvos a atingir...
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