sábado, 9 de outubro de 2010

Os mais difíceis momentos













A guerra tem sempre presente a destruição e o sofrimento que provoca.

Durante alguns momentos, podemos, no entanto, estar alheados dessa realidade.

Mas quando menos se espera, eis que nos confronta, ferindo com uma brutalidade inimaginável.

Sucedeu há pouco tempo.

Vinha com o co-piloto e um dos artilheiros no pequeno” Willys”, em direcção á messe.

Sem qualquer aviso, irrompe uma violenta explosão, numa bomba que num carrinho de transporte aguardava para ser carregada numa aeronave.

Atirado pelo ar, um dos mecânicos que passava por perto, cai violentamente no asfalto da pista.

Contorce-se no chão, num cenário de sofrimento atroz, o seu sangue escorre no alcatrão.

Dou meia com o “Willys” em direcção ao local do acidente.

Em vez de uma rapidez vibrante, move-me um sentimento de tristeza, um profundo pesar.

Paro a viatura; dou uns passos apressados em direcção ao local.

O jovem mêcanico, já tinha sido levado, sem vida.

No local onde há pouco se debatia pela sobrevivência, está apenas uma mancha de água, utilizada para rapidamente limpar o seu sangue do local.

Veio-me à memória uma outra situação, ainda do tempo em que estava colocado nos caças, de um ataque inimigo à base, onde um elemento do pessoal de terra, que teimosamente recusava abandonar as pistas, para o refúgio, foi atingido mortalmente por uma rajada de um caça inimigo, à minha frente, sem que nada conseguisse fazer.

Desmoralizadoras, estas situações são sempre abordadas pelos altos comandos de uma forma rápida e sintética. Nada mais.

Mas na realidade são muito mais.

É uma vida. Que se perde. Não será esquecida.

Oiço uma voz de um dos mecânicos, que entretanto ocorreram ao local, em direcção a mim:

Sabe o que é isto Sr. Capitão??

- É a merda (o Sr. desculpe) dos explosivos defeituosos.

- E por sorte não foi uma aeronave inteira com tripulação e tudo, sem sequer sair do chão...Olho para ele, mas nem uma palavra digo. Venho me embora.

O co-piloto afirma num pesado tôm de tristeza: "eu conhecia aquele tipo...trabalhava às vezes lá do bar da messe...era muito novo..." e remete-se a um curto mas muito profundo silêncio.

Crispa-se a tristeza no ambiente, e o artilheiro coloca um ar pesado, que apesar da sua pouca idade, é do seu conhecimento esse “sniper” que é a morte.

Resta-nos continuar; Pelo que acreditamos; Para que possamos tentar dar alguns bons momentos aos que precisam de nós, renovando a esperança, força anímica da apelidada vida.

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