domingo, 9 de maio de 2010

A Estrada da Memória VI 10-May-2009 23:21


Já desde a saída de Andorra que o submarino dá uma clara sensação de uma descida constante, em direcção ao fundo, apesar do oficial de serviço à ponte garantir que por vezes subimos.

É o que sinto – o fundo desta descida só estará quanto estiver nas minhas funções no meu posto, rodeado por centenas de e-mails que dizem como fazer cada coisa mas que todos juntos não servem para nada.

Imaginem o submarino “Nemo” a uma profundidade brutal, onde a pressão elevada da água sobre a estrutura já obriga o casco aceder.

O seu comandante perfeccionista trata os seus marinheiros como peças e nada mais - ordenando – “Profundidade máxima já!!”

Fica admirado quando vê que os seus marinheiros não o reconhecem enquanto chefia, é apenas um entre tantos na sociedade de hoje, disposto a tudo, excepto no mais importante, no marcar a diferença defendendo os seus marinheiros quando necessário.

Com todos mergulhados na mais completa desorganização; Só na mente do comandante a organização existe, e os objectivos a cumprir, qualquer que seja o preço que isso possa ter, apesar do irrealizável que é.

– Aí está, já têm uma ideia do meu posto de marinheiro, que me espera após o regresso.

Junto à entrada para Zaragoça, brilham no escuro luzes de uma imensa estrutura que lembram uma enorme nave alienígena, intimidadora, mas que não toma de imediato uma acção agressiva – Basta-lhe a sua presença para se impor.

Está no entanto em actividade, com um tom algo vagaroso, liberta algum fumo – remetendo-me de imediato a ideia dos “marinheiros” que tal como eu nos mais diversos horários têm como função manter tal aparato em funcionamento – os que ninguém lembra ou quer saber – excepto se for um deles.

Impõe-se a paragem a cerca de 160 km de Madrid. De manhã ao acordar as temperaturas rondam os -4ºC e tudo está mergulhado num espesso manto branco.

Gelo dentro até das jantes...a 160Km?? De Madrid?? Quando Chegar a Badajoz, desta forma devo ter Suecas à espera….Será que o clima mudou de vez, abruptamente como no filme “dia depois de amanhã” e já estamos a viver essa realidade?

Belo mundo espera as gerações futuras…- penso, enquanto faço as verificações técnicas da manhã, enrolado num cachecol e em vários casacos.

O co-piloto consciente da situação, protesta com os artilheiros que acordam com pouca vontade de sair daquele cenário, mas sem terem ideia que as reservas de gás estão no mínimo, e que naquele local, sem aquecimento não durariam muito.

Os governantes perdem-se (também lhes é conveniente) em discussões idiotas em vez de tomarem medidas já – a indústria automóvel ainda insiste em motores de explosão em vez de passar já – com todos os problemas que isso possa ter – para o totalmente eléctrico – um parto é um processo doloroso a maioria das vezes – mas têm que acontecer.

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