domingo, 9 de maio de 2010

A Estrada da Memória VII 10-May-2009 23:21


Chega a altura de por os motores em funcionamento – levam mais tempo a aquecer, mas está tudo ok – estamos em marcha.

O tempo levanta e aquece de maneira surpreendente antes de chegar a Madrid, e teimosamente, levo o submarino pelo meio do centro de Madrid, como forma de recusar o regresso, mas um painel publicitário a uma exposição do Titanic em Madrid lembra-me da inevitabilidade do regresso e do destino.

O céu esta pouco nublado, o calor já se faz sentir, o motor soa tranquilamente e num tom reconfortante tal os quatro motores de estrela dupla de uma fortaleza voadora. Tudo Bem.

Agora já temos cobertura aérea dos caças P-51 - afirmo - fazendo alusão aos meus familiares sempre dispostos a efectuar um resgate de toda a tripulação a qualquer hora do dia ou da noite, até Madrid, com as suas viaturas caso algo corresse mal com a fortaleza voadora.

A distancia para Badajoz cada vez parece passar mais depressa e é cada vez menos – reduzo a velocidade mas parece um íman a atrair-nos sem parar, e o co-piloto têm que aturar as minhas queixas, gritos e protestos à medida que a distancia encurta para a chegada.

Uma viatura Espanhola liga e desliga o farol de nevoeiro repetidamente a avisar-nos de alguma coisa – o que será? Era só o que faltava a 15 km’s de Badajoz…o entardecer já anuncia a noite próxima…. Paramos para ver o que se passa

– é a nossa luz de nevoeiro que está acesa – mas o co-piloto confirma que está desligada no painel –

Muito interessante….seria do sal…que apanhamos no caminho?? Se é a luz do nevoeiro que está acesa – tiro a lâmpada e já está – 230 km’s com bom tempo não vai ser necessária….pois, mas assim que a tiro, o reboque e todo o lado esquerdo ficam sem luzes – excepto o farol da frente.

Ok – foi o fusível, onde está o manual técnico? Pergunto ao co-piloto – não encontro esse entre os manuais de voo – responde um pouco nervosamente.

Algum cabeça de atum os deve ter tirado no Hangar e não voltou a coloca-los – a importância do pequeno é mesmo fundamental, no todo.

Aqui no cockpit não têm indicação de nenhum painel de fusíveis, vamos ver junto do motor – afirmo. Lá localizamos uma caixa de fusíveis e conseguimos decifra-la já em plena noite.

Todos os fusíveis verificados por duas vezes e nada – então toca a “Checkar” todos os relés, perplexo o co-piloto lá colabora de uma forma extremamente profissional mas também não temos resultados.

Voltamos para o interior – estamos demasiadamente perto e tarde para chamar a escolta aérea – comento com o co-piloto.

Sem nenhuma luz a Bombordo, arriscamo-nos a uma colisão aérea – para além de podermos ser abatidos por “fogo amigo” ao ser confundidos com uma aeronave de reconhecimento inimiga – é uma realidade.

No painel de controlo acendem-se luzes avisadoras de equipamentos que estão desligados – apesar de o co-piloto tentar que as mesmas funcionem correctamente, algo muito errado parece passar-se no circuito eléctrico.

- Rota directa e a velocidade que aguentar – afirmo; O co-piloto acusa o elevado desgaste da missão e adormece num descanso mais que merecido, acordando por vezes e comentando o elevado ritmo de cruzeiro, voltando a adormecer.

- Não é agora depois de 6500km’s que nos vais deixar ficar mal. - Dialogo com a fortaleza voadora, e na verdade não deixou.

Um pequeno fusível de 5 amperes fundido tinha sido a causa de toda esta situação.

– Sempre existia um painel de fusíveis no interior do cockpit, impossível de localizar pois não tinha a mínima indicação e estava totalmente aparafusado.

Já no hangar um dos mecânicos experimentados, em tom brincalhão não calculava o que tinha representado para nós, e ficam sempre por explicar alguns fenómenos relativos à electricidade como seja os constantes choques que eu apanhava quando tocava na fuselagem, ou o cabelo comprido de um dos artilheiros totalmente no ar, tal ouriço.

A portageira anuncia com um sorriso os 35 euros de Portagem – olho de forma incrédula para a mesma enquanto o co-piloto quase que grita “roubo” e com razão.

Afinal por mais de o dobro da distância em França tinha pago menos de metade…

Os dias seguintes a missão são de prestar contas aos superiores hierárquicos, entregar a “fiel” fortaleza voadora a outra tripulação, sempre na esperança de brevemente estarmos todos juntos novamente para tal viagem, missão de aprender que é afinal é a nossa vida.

Até breve.

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