segunda-feira, 12 de março de 2012

Uma Batalha Civil














Mergulhado na rotina de uma qualquer manhã, entre os gestos habituais de quem começa o dia, eis que o algodão de um cotonete desparece no interior de um ouvido.


Característica do início de dia, a dimensão temporal, que parece correr de uma forma bem mais acelerada.


“Se o dia fosse só feito de manhãs – Já estaríamos no séc. XXX…”


Bem, o algodão não engana – mas gosta de se esconder.


Depois da formatura do pequeno-almoço, decido então ir à enfermaria.


- É melhor ir ao hospital…respondem-me.


Estamos sem pessoal…sem especialidades como a otorrinolaringologia… está tudo destacado na frente de combate…respondem-me.


- Tente ir ao hospital civil…decerto que o atendem por lá.


Agarro no Willys e lá vou eu.


Chego as urgências.


Reina o caos.


Não param de chegar ambulâncias, num frenesim constante.


Idosos a que o “sniper” apelidado de morte atinge de raspão, ferindo quase mortalmente, mas deixando ainda com alguma vida.


Os seus familiares debruçam-se com grande angústia sobre os seus entes queridos, apanhados desprevenidos pela situação.


Já me aconteceu o mesmo. São momentos difíceis.


Não tinha uma ideia assim definida de quão pesada esta guerra era para os civis.


O inimigo, numa tentativa de lançar o terror, lança uns enormes foguetões que se chamam V-2 sobre as cidades, indiscriminadamente.


E as vitimas não param de chegar. Agora é a vez de um senhor na casa dos 50 anos.


A sua mulher acompanha-o. Não dá sinal de si. Passados alguns momentos a sua esposa reaparece num choro compulsivo. O “Sniper” apanhou-o.


Sinto uma pesada culpa por estar ali.


Eu, com uma situação “quase cómica” em relação a pessoas que se batem pela vida ali, a minha frente.


Chamam-me.


No interior do serviço de urgências reina o total caos, passam pessoas de maca, grita o pessoal médico com os auxiliares, não muito longe da imagem da enfermaria de Pearl Habour, que vi à tempos em filme.


Espero cerca de três horas e ninguém me chama. Depois do que vi, não tenho coragem de reclamar pelo facto de terem trocado o meu processo com um civil e dizerem-me que nada tinha no ouvido.


Mas algo continua lá. Que um enfermeiro empenhado, verdadeiro profissional, num outro hospital consegue retirar.


Que alivio!!


- Se isso ficasse aí, era infecção pela certa !! – diz-me.


Agradeço encarecidamente a atitude profissional e o empenho em resolver o meu “nada” comparado com o “tudo” que têm no dia a dia.


- Prefiro o voo sobre território inimigo. Com todos os perigos.


As perdas de aeronaves e tripulações têm sido gigantescas.


Em território inimigo, as tripulações capturadas, vêem-se numa realidade completamente diferente; recentemente na unidade tivemos direito a uma das “muito raras” sessões de cinema, que abordou este tema, aqui deixo aqui o “link” para partilhar convosco, dado a validade que ainda detém.


http://www.airspacemag.com/video/Resisting-Enemy-Interrogation.html


Não deixo de dedicar algum tempo a pensar na bela e simpática enfermeira do filme, malévola nos seus objectivos; trabalhando em conjunto com os “amigáveis” oficiais inimigos, determinados a tudo para alcançarem os seus objectivos.


Tal e qual como nos dias de hoje.


O meu estimado co-piloto aventura-se aos comandos de um simulador uma nova estranha aeronave experimental chamada de helicóptero.


Complicada de comandos, brilha pelo domínio que têm sobre a máquina, com o espanto do instrutor da mesma.


Quando me viro para trás, têm uma autentica plateia de mais de 20 co-pilotos que o observam atentamente.


- Nada mudou…penso…em 50 anos…muito se diz e fala “da independência e capacidade dos co-pilotos” mas na realidade, as mentalidades continuam exactamente na mesma.


Perto do fim da sua “actuação” (é o termo certo) o instrutor pede-me que lhe dê uma ajuda com o “throttle” e a sua aeronave acaba estatelada no chão, por culpa minha, perante a minha estranheza e falta de jeito para estas curiosas aeronaves.


De regresso, não deixo de comentar a sua façanha, que deveria continuar.


Mas não lhe dá muita importância, preocupa-se mais com o facto da aeronave ter passado por pouco na certificação de voo requerida todos os anos.


Temos também um membro novo na tripulação – um artilheiro de cauda – Maçarico; ainda não voou connosco em combate.

Veremos o que vai dar…por agora prefere de vez enquanto andar a pancadaria com o navegador, enquanto estamos por terra….A verdade è que já acabou na enfermaria uma vez por causa das “Brincadeiras”.


O Sr. comandante também teve que recolher à enfermaria, após uma surtida que realizou.


Quando o visitamos as suas mãos, vitimas de ferimentos, estavam inchadas e dolorosas ao ponto de não conseguir mexer os dedos.


Conseguiu  com as maõs nesse estado, regressar à base, voando sem co-piloto, com umas dores incríveis e aterrando em segurança.


É o carácter que faz a diferença quando em total surpresa, somos postos à prova com situações impossíveis de serem planeadas.


Que possamos assim contribuir para um mundo melhor.

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